A gravidez é um período ímpar no universo feminino e promove profundas mudanças no corpo da mulher com um objetivo único: o preparo para o parto. Entretanto, esse momento pode desencadear algumas condições não muito desejáveis como o desenvolvimento de varizes nas pernas, um fenômeno bastante comum que acomete 40% das mulheres. Mas calma, não se desespere, esse número pode parecer alto mas compreende desde o aparecimento de pequenos vasinhos até o desenvolvimento de varizes bem salientes que, felizmente, são a minoria..
Existem vários fatores relacionados ao surgimento das varizes durante a gestação, alguns “controláveis” e outros não. Dois destes fatores, que são os mais importantes, não estão sob nosso controle. São eles: a genética e a idade.
Nosso código genético, ou seja, as informações contidas no nosso DNA, são uma marca registrada de quase tudo o que acontece no nosso corpo e mesmo com toda tecnologia e conhecimento científico que temos hoje em dia, não é possível alterar esse código genético. Portanto, caso alguém tenha familiares que apresentem varizes, principalmente parentes próximos, maior a chance de se desenvolverem as varizes. Estudo publicado em uma revista médica importante mostrou uma chance de 92% de uma pessoa apresentar varizes caso o pai e a mãe tenham a doença, 25% para os homens e 62% para as mulheres, caso um dos pais sejam portadores e 20% se não houver a ocorrência em nenhum dos pais. Essa relação é válida para a população em geral, não só para as grávidas, mas ressalta o papel da genética na origem do problema.
Apesar da idade reprodutiva das mulheres ser até quarenta e poucos anos, condição considerada jovem se pensarmos em termos de tempo de sobrevida dos humanos, quanto mais idade a grávida tiver, também maiores as chances de desenvolvimento das varizes. Portanto, apesar de não ser garantia de não aparecimento de varizes, gestações mais precoces (obviamente planejadas com responsabilidade) tendem a produzir menos varizes que as mais tardias.
Além da genética e da idade, o progressivo aumento de um hormônio extremamente importante para a manutenção da gestação, a progesterona, produz modificações nos vasos sanguíneos, fazendo com que as veias das pernas fiquem mais flácidas, gerando um fator a mais para o aparecimento ou agravamento de varizes nos membros inferiores. Existem estudos que já demonstraram receptores específicos para os hormônios femininos em varizes de algumas mulheres. Isso pode explicar parcialmente a preponderância das varizes no sexo feminino em comparação com o sexo masculino e de alguma forma justificar o desenvolvimento de varizes nas gestantes. A boa notícia é que logo após o parto, esse hormônio diminui drasticamente, facilitando a circulação venosa nas pernas.
O volume uterino também contribui para o aparecimento das varizes na gravidez, principalmente no fim do segundo e início do terceiro trimestre da gestação, com o crescimento rápido do feto neste período. Esse aumento do útero provoca uma compressão nas veias do abdome, dificultando a circulação venosa das pernas, já que todo o sangue proveniente dos membros inferiores naturalmente tem que passar por veias abdominais no seu caminho até o coração.
Nem tanto. Caso a gestante siga adequadamente as orientações médicas, tanto do seu obstetra quanto de nós, cirurgiões vasculares, sua condição pode ser bem melhor do que parece. Claro que não há o que fazer quanto à genética, idade, aumento progressivo de progesterona e aumento do tamanho do útero.
No entanto, essas orientações podem fazer diferença:
Frequentemente recebo no consultório grávidas no início da gestação desejosas em tomarem “remédios milagrosos” para não terem varizes na gravidez. Lamento informar que isto não existe. Os medicamentos para circulação apenas auxiliam no alívio dos sintomas, ou seja, ajudam a controlar o peso e cansaço nas pernas e eventualmente o inchaço nos tornozelos.
Além disso, medicamentos devem ser evitados na gravidez, exceto aqueles estritamente necessáriose somente com orientação médica.
Apesar de altamente recomendadas durante a gestação, o uso de meias elásticas não previne o aparecimento ou agravamento das varizes nas pernas, nem na gestação nem fora dela. As meias ajudam bastante no controle dos sintomas, apenas isso. Pode ser difícil no começo, mas quem é persistente adapta-se rapidamente e logo percebe os benefícios. Entretanto existem certas regras que devem ser seguidas. A maneira correta de usar as meias elásticas é vesti-las pela manhã e ficar o máximo de tempo com elas, preferencialmente até o fim do dia. O que oriento às minhas pacientes é que façam seu toalete e banho e após isso coloquem as meias.
Outra dúvida comum é sobre a extensão das meias. Precisa ser meia calça? Para alívio de muitas mulheres as meias até o joelho, ou seja, as meias 3/4, são suficientes. Porém, se você preferir uma meia 7/8 ou meia calça, vá em frente, aí é questão de opção. Mas lembre-se: meias de compressão devem ser vendidas com receita médica, portanto, consulte um médico, preferencialmente um cirurgião vascular para saber qual compressão usar. E na hora de comprar, o vendedor deve tomar as medidas da sua perna, afinal uma meia para alguém de 1,5m de altura não é a mesma para uma grávida de 1,8m.
Para finalizar, vale dizer que as varizes tendem a diminuir bastante após o parto, portanto somente depois de cerca de três meses após dar à luz é possível saber se você precisará de algum tratamento específico como cirurgia ou somente aplicações para os vasinhos que sobraram.
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